Desobediência civil
Na vastidão das terras escocesas, onde as colinas ondulantes e os majestosos castelos espreitam entre as névoas, pode-se encontrar uma conexão peculiar entre a beleza natural e a história da desobediência e luta por direitos civis. Embora à primeira vista esses castelos possam evocar imagens de uma era medieval, eles também têm testemunhado a persistência e a resiliência do espírito humano ao longo dos séculos. Caminhar entre os castelos escoceses é mergulhar num cenário que, paradoxalmente, convida a contemplação e reflexão sobre questões de liberdade, justiça e resistência pacífica.
Relembro a primeira de muitas consultas à obra de um autor que defendeu, a custo, a desobediência civil como forma de luta contra a quebra de contrato social por parte do Estado.
“Penso que devemos ser primeiro homens, e só depois súbditos. Não é desejável cultivar tanto respeito pela lei quanto pelo que é direito. A única obrigação que tenho o direito de assumir é a de fazer em qualquer tempo o que julgo ser correto.”
A desobediência civil, como conceito e prática, ganhou destaque e influência significativa no século XIX, e um dos pioneiros e defensores mais notáveis desse movimento foi Henry David Thoreau. O seu ensaio “A Desobediência Civil”, é uma obra que inspira gerações de ativistas, pensadores e defensores dos direitos civis.
A desobediência civil, como forma de protesto e resistência não violenta, teve um papel central ao longo do século XX em diversos movimentos e lutas por direitos civis, liberdade e justiça social. O movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos liderado por figuras como Martin Luther King Jr. ou a luta pela independência da Índia onde se destaca Mahatma Gandhi, são frequentemente associados à desobediência civil não violenta.
Da leitura da obra de Thoreau fica-me a frase “Não nasci para ser coagido. Respirarei à minha própria maneira”, que evoca uma poderosa reflexão sobre a autenticidade, a individualidade e a resistência à conformidade. Embora essas palavras não sejam diretamente atribuídas a Henry David Thoreau, elas refletem o argumento de que os indivíduos têm o dever moral de resistir a leis injustas e não éticas, mesmo que isso signifique desobedecer ao governo. O autor acreditava que as pessoas não deveriam aceitar passivamente leis que contrariassem os seus princípios morais. Em vez disso, deveriam agir de acordo com as suas consciências, desafiando o que considerassem injusto. Thoreau promovia a ideia de que cada indivíduo deveria seguir a sua própria bússola moral, mesmo que isso os colocasse em desacordo com a sociedade. Ele acreditava que a autenticidade pessoal era mais importante do que a conformidade social.
Nas suas palavras: “Jamais um Estado será verdadeiramente livre e esclarecido se não reconhecer o indivíduo como um poder mais elevado e independente, do qual deriva todo o seu próprio poder e autoridade, e não o tratar de modo apropriado.” Resta concluir que o conceito de contrato social é válido enquanto for respeitado pelas partes.
Fotografia e texto: Sérgio Moreira


