A State of Mind

– Sou quem quiseres!

– Sou quem quiseres! – disse Rita ao homem com quem ia deitar-se. Era só mais um. Fechou a porta. Nada lhe era estranho uma vez que aquele espaço já tinha sido alugado por ela várias vezes. No fundo fazia parte do seu local de trabalho.

Despiu o vestido de seda, azul turquesa, e esticou-o em cima da cadeira para não o amachucar. Passou as mãos pelo cabelo. A fragilidade feminina saía-lhe pelos poros da pele. Com movimentos subtis foi despindo as meias. O homem permanecia imóvel sentado na beira da cama daquele quarto alugado para o ato que se seguiria. Rita olhou-o. O fato muito bem engomado e a camisa branca davam-lhe um aspeto limpo.

Rita ia aprimorando os movimentos do corpo a fim de justificar o preço. Os suaves movimentos faziam aquele esbelto corpo esvoaçar na calma que envolvia o espaço. Todo aquele teatro abafava o nervosismo que a jovem sentia. Afinal tratava-se de um cliente novo. O homem aparentava ter cinquenta e poucos anos, apesar de parecer ser de confiança, Rita sabia que por vezes as aparências enganam. Olhou a aliança no dedo.

– Que pretende?

O sujeito tirou os óculos e limpou-os com um lenço de pano.

– Não sei muito bem… Tu que estás habituada a fazer? – perguntou ele timidamente. A moça sorriu e respondeu-lhe com uma questão:

– O que está você habituado a pagar?

– És cara?

– Sou boa… as coisas boas têm preços elevados! Cinquenta euros penetração vaginal, cem euros completo.

O homem teve coragem de olhá-la. Permanecia sentado sem despir qualquer peça de roupa. Aquele silêncio começava a deixar Rita impaciente.

– Diga lá o que pretende!

O homem abriu a mala de couro e tirou a carteira de onde retirou cinco notas de vinte euros. Rita guardou-as na sua mala. Com um suave movimento desapertou o soutien. Os seus pequenos seios endurecidos, não se sabe se pelo frio se por outra coisa qualquer, ficaram ali à disposição dos lábios do homem. Ele continuava imóvel. Com a mão direita folgou a gravata castanha que mais parecia uma corda disposta a enforcá-lo. A moça estava a ficar sem jeito. A respiração do sujeito começou a ficar cada vez mais sufocante. Rita, sem saber bem como agir, sentou-se a seu lado, colocou-lhe uma mão no ombro com o intuito de o acalmar.

– Relaxe, tenha calma! Diga lá, é a primeira vez que paga para ter sexo? É alguma fantasia que tem vergonha de pedir?

O homem olhou-a com os olhos arregalados. Aquele olhar assustou a rapariga.

Ele agarrou a mala e abriu-a. A moça assustada afastou-se um pouco. Os seus olhos expectantes fixaram-se nos movimentos do sujeito. Ficou aliviada quando avistou o vibrador de tamanho médio que o sujeito tirou do interior da mala.

Apeteceu-lhe rir à gargalhada. Pensou que o sujeito era impotente ou provavelmente estaria…

– Podes meter isto? – interrompeu-lhe ele os pensamentos. Rita soltou uma gargalhada.

– Seu maroto… tanto mistério e afinal só queres brincar com isto!

O homem suava com alguma intensidade. Despiu as calças, baixou as cuecas e atirou-se a cima da cama de barriga para baixo.

– Não mo metas com muita força! – disse ele.

—-

Imagem: Sérgio Moreira

Texto: Adão Baptista