• Dilemas

    Uma abelha honesta e poupada a assombrar o capitalismo

    No crepúsculo de mais um dia, enquanto procuro o melhor enquadramento para um Buda corpulento que afortunadamente me saiu numa rifa, sou interrompido pelo som ensurdecedor de um enxame de atarefadas abelhas que, aproveitando os últimos raios de sol, estabelecem uma relação mutualista com uma das tangerineiras do quintal. Estão numa espécie de banquete onde todos ganham no fim de tamanha agitação. Talvez inspirado pelo meu volumoso amigo que medita há alguns meses num dos cantos do jardim, e observando que algumas abelhas se moviam livremente com um diferente grau de envolvimento na relação com a árvore, notei que ali estavam presentes as teorias de dois autores que tentam explicar…

  • Dilemas

    Os prisioneiros da sociedade líquida

    A partir da segunda metade do século XX assiste-se, segundo Bauman, sociólogo que contrapõe a sociedade sólida industrial à sociedade líquida do pós-modernismo, a uma transformação económica onde, numa sociedade individualista e de consumo, empresas e indivíduos têm poucas garantias de estabilidade e segurança financeira. Creio que uma das consequências deste tipo de economia seja o encurtar do ciclo das crises naturais do capitalismo proposto por Nikolai Kondratieff bem como o acentuar das fragilidades dos laços sociais onde os indivíduos ficam cada vez mais isolados em redes de solidariedade frágeis ou inoperacionais. Este individualismo marcado pela constante busca de satisfação pessoal leva à fragmentação social, à superficialidade nas relações e…

  • Sombras

    A desunião faz a força

    No sentido de nos dar uma visão ambivalente do conceito de liberdade, o sociólogo polaco Zygmunt Bauman na sua obra “Modernidade Líquida” cita o alemão Lion Feuchtwanger que, na narrativa “Ulisses e os porcos”, nos descreve que os marinheiros aprisionados por Circe não terão ficado satisfeitos por terem sido libertados por Ulisses já que estariam confortáveis com a condição em que se encontravam. O autor alemão dá a entender que a liberdade traz consigo um conjunto de responsabilidades e de consequências que os companheiros de Ulisses não estariam dispostos a correr nas aventuras a que este os submetia. Bauman coloca-nos a dúvida se a liberdade é uma benção ou uma…

  • Sombras

    O pensamento crítico e a nobreza democrática

    No início do século XVII Francis Bacon dizia que “o pensamento crítico é ter o desejo de buscar, a paciência para duvidar, o empenho para meditar, a lentidão para afirmar, a disposição para considerar, o cuidado para ordenar e o ódio por qualquer tipo de impostura”. O pensamento do autor, no início do século, tornou-se fundamental para o conjunto de mudanças políticas e sociais das décadas seguintes. Este conceito acabou por nunca mais ser abandonado, tendo sido introduzido formalmente nos perfis curriculares e amplamente adotado no mundo científico, político, empresarial e social. Na era da desinformação e da polarização política, a capacidade crítica é essencial para que possamos questionar as…

  • Sombras

    A sanita – os “democratas” que estão a matar a democracia

    Notícias de governantes que têm uma Constituição no lugar onde o cidadão comum tem uma sanita. Qualquer político que abuse do poder, seja pela forma de corrupção, nepotismo, clientelismo, autoritarismo, entre outras, está a ameaçar a democracia já que põe em causa o princípio da igualdade perante a lei e o respeito pelos direitos individuais e coletivos. Começam a ser mais frequentes os episódios em que decorre este abuso e desrespeito pela Constituição. Estes chegam até a ser abordados de forma aberta e desenvergonhada com a maior das naturalidades por políticos medíocres que se importam mais com submeter para beneficiar do que com representar as instituições democráticas e os direitos…

  • A tenda

    A tenda – apresentação do projeto

    No início do século XX, Trindade Coelho, na sua obra “Manual político do cidadão portuguez”, citava Cícero – uni bene, ibi patria – no sentido de argumentar que apenas os nómadas se podiam sentir em casa em qualquer terra que os tratasse bem. Segundo o autor, quem ama a sua pátria não nutre este tipo de sentimento. Um século depois, o conceito de cidadão mantém-se pouco alterado mas já o de nomadismo tomou outro sentido num mundo global e uniformizado com um mercado laboral aberto como o de hoje. Esta globalização, apoiada por um conjunto de meios tecnológicos, potencia o desenraizamento dos cidadãos e pode levar a uma falta de…

  • Sombras

    O Dote

    A transmissão de conhecimentos entre gerações é uma parte fundamental do processo de evolução da humanidade. É por meio da transmissão de conhecimentos que as sociedades conseguem preservar a sua cultura, história e valores, além de avançar e progredir em diversas áreas do conhecimento. Existem várias formas de transmissão de conhecimentos, desde a educação formal nas escolas até à transmissão oral de histórias e tradições. Cada uma dessas formas é importante e tem um papel fundamental na transmissão de conhecimentos entre gerações. Uma das principais razões pelas quais a transmissão de conhecimentos entre gerações é tão importante é porque isso nos permite aprender com as experiências e sabedoria acumuladas pelos…

  • Sombras

    Um castelo de limites

    A reflexão sobre a fronteira da atuação individual ajuda-nos a entender quais são as nossas responsabilidades como membros da sociedade e a considerar as possíveis consequências das nossas ações. Ao conhecermos os nossos limites, podemos trabalhar para desenvolver as nossas habilidades e competências, para que possamos maximizar o nosso potencial sem ultrapassar esses limites. É importante lembrar que os limites individuais não são imutáveis e podem ser ampliados através da educação e do desenvolvimento pessoal. Assim, é importante não nos limitarmos em excesso, mas também não ultrapassar os limites que são necessários para proteger os direitos e a dignidade de outras pessoas. O controlo das massas faz-se através do aproveitamento…

  • Comemorações

    M

    É fácil identificar as razões que levam governos a aprisionar os seus súbditos. É mais difícil explicar maridos que o fazem às suas mulheres ou pais às suas filhas. Ao longo da história, a mulher foi mantida entre as amarras da vida pública e o jardim de sua casa. As mulheres gregas, por exemplo, não tinham direito ao voto, não podiam participar em atividades políticas e não tinham permissão para ocupar cargos públicos ou de liderança. Eram consideradas propriedade dos seus pais ou maridos. Os romanos e a Idade Média não trouxeram grandes novidades e até a sociedade iluminista mais radical traça uma linha vermelha na igualdade de género. Sem…

  • Os lobos

    O lobo morreu…. VIVA O LOBO!!!

    A falta de capacidade governativa é um problema que pode ocorrer em qualquer sistema político, incluindo a democracia. Esta refere-se à incapacidade do governo de tomar decisões eficazes e implementá-las de forma eficiente para resolver problemas e atender às necessidades da população. Há várias razões pelas quais a capacidade governativa pode ser comprometida. Pode ser resultado de falta de recursos financeiros, de falta de vontade política ou de falta de habilidade técnica dos líderes políticos bem como de corrupção e outras formas de má gestão. Quando a capacidade governativa é comprometida, a qualidade dos serviços públicos pode ser afetada, a economia pode sofrer e as questões sociais e ambientais podem-se…