
O saber livresco, as sinapses e o controlo de massas
As sinapses são partes fundamentais do processo de construção do conhecimento no cérebro humano. Elas são conexões entre os neurónios que permitem a transmissão de informações de uma célula para outra. Essas conexões são formadas a partir de experiências sensoriais, emocionais e cognitivas, e são modificadas e fortalecidas à medida que novas informações são aprendidas e processadas.
À medida que continuamos a aprender e a construir novos conhecimentos, essas conexões sinápticas tornam-se mais complexas e interconectadas, permitindo a formação de redes neurais que suportam habilidades cognitivas mais avançadas, como a resolução de problemas complexos e a tomada de decisões.
Por outro lado, a falta de treino do cérebro humano, entre outros sintomas, pode levar a uma redução da capacidade cognitiva, reduzindo a capacidade de criar e inovar.
Durante a Idade Média, houve uma excessiva dependência do conhecimento clássico, ou seja, dos escritos e ideias dos antigos filósofos gregos e romanos, especialmente de Aristóteles. Isso ocorreu principalmente porque a maioria dos estudiosos medievais não tinha acesso a outras fontes de conhecimento e não havia incentivo para a pesquisa e a inovação.
No entanto, a excessiva dependência do conhecimento clássico levou a uma falta de progresso e inovação. A adesão estrita à filosofia aristotélica restringiu o pensamento crítico e a criatividade dos estudiosos, impedindo-os de questionar e desafiar ideias estabelecidas. Isso também limitou o desenvolvimento de novas teorias e descobertas científicas.
Só no final da Idade Média, com a redescoberta das obras dos antigos gregos e romanos, além do surgimento de novas fontes de conhecimento, como as descobertas científicas dos árabes, a Renascença começou a ocorrer. Com ela, veio um novo interesse pelo pensamento crítico, a observação empírica e a experimentação, levando ao desenvolvimento de novas ideias e teorias em várias áreas do conhecimento, incluindo a filosofia, a arte, a ciência e a medicina.
A problemática de não questionar o saber que nos é apresentado é que corremos o risco de aceitar informações e ideias sem realmente entender ou avaliar se elas são precisas ou úteis. Isso pode levar a uma falta de pensamento crítico e à propagação de informações falsas ou enganosas.
Ao aceitar cegamente o que nos é dito sem questionar, estamos a abrir mão do nosso poder de discernimento e julgamento. Isso pode levar a decisões pobres e ações prejudiciais, tanto para nós mesmos como para outras pessoas ao nosso redor.
A falta de capacidade crítica numa sociedade pode levar ao controlo de massas por parte de grupos de poder. Sem a habilidade de questionar e avaliar informações de forma crítica, as pessoas são mais propensas a aceitar ideias e opiniões impostas pelos meios de comunicação, governos ou outras entidades. Isso pode levar a uma redução na diversidade de pensamento e à propagação de ideologias dominantes que muitas vezes não representam os interesses de toda a sociedade.
Por outro lado, a capacidade crítica permite às pessoas questionar e desafiar as opiniões dominantes, permitindo a tal diversidade de pensamento e a possibilidade de alcançar mudanças sociais positivas. Uma população crítica é capaz de analisar e avaliar informações, permitindo-lhe formar as suas próprias opiniões e tomar decisões informadas.
Na sociedade democrática, a participação ativa dos cidadãos é essencial para manter o equilíbrio de poder e garantir que os direitos e interesses das pessoas sejam protegidos. Isso significa que os cidadãos precisam de ser capazes de analisar criticamente as informações que lhes são apresentadas e formar opiniões informadas com base nos factos e nas evidências.
As decisões importantes são tomadas através do diálogo, negociação e consenso entre diferentes grupos e indivíduos. O pensamento crítico permite que as pessoas avaliem diferentes pontos de vista e ideias e cheguem a um acordo justo e equitativo.
Além disso, o pensamento crítico é essencial para a transparência dos governos e instituições democráticas. Através do questionamento e da avaliação crítica, os cidadãos podem garantir que as instituições públicas e os seus representantes sejam responsáveis pelas suas ações e decisões.
Fotografia e texto: Sérgio Moreira

