
A desunião faz a força
No sentido de nos dar uma visão ambivalente do conceito de liberdade, o sociólogo polaco Zygmunt Bauman na sua obra “Modernidade Líquida” cita o alemão Lion Feuchtwanger que, na narrativa “Ulisses e os porcos”, nos descreve que os marinheiros aprisionados por Circe não terão ficado satisfeitos por terem sido libertados por Ulisses já que estariam confortáveis com a condição em que se encontravam. O autor alemão dá a entender que a liberdade traz consigo um conjunto de responsabilidades e de consequências que os companheiros de Ulisses não estariam dispostos a correr nas aventuras a que este os submetia. Bauman coloca-nos a dúvida se a liberdade é uma benção ou uma maldição.
De uma forma ou de outra, fica claro para o polaco que a liberdade não pode ser conquistada de forma individual. Liberdade e submissão à sociedade são dois conceitos interligados já que as normas sociais nos capacitam de respostas que, na sua ausência, seriam substituídas pelo medo e incerteza.
A sociedade líquida, sem estrutura ou linhas definidas onde impera a cultura do imediatismo e do prazer, traz como consequência o aumento do individualismo. A incapacidade de nos ligarmos a causas comuns pode levar a conflitos e a instabilidade. Esta desunião aumenta o poder de grupos políticos e económicos que aproveitam as diferentes visões e paixões dos indivíduos para manipular e causar fragmentação. Dividir para reinar é uma estratégia que funciona numa sociedade que não consegue traçar objetivos comuns claros.
É imperativo educar as novas gerações para os perigos de uma sociedade em que o prazer e o conforto individual são colocados à frente dos objetivos do grupo. A mudança requerida é difícil e longa. Como disse Bauman numa das suas entrevistas “Na situação atual, gosto de me referir a um ditado chinês da época de Confúcio. Ele diz que se você planeia para um ano, semeie milho. Se planeia para dez anos, plante uma árvore. Se planeia para cem anos, eduque as pessoas”.
Parece-me que, no momento atual, nem milho estamos a semear.

Fotografia e texto: Sérgio Moreira

